quinta-feira, novembro 21, 2024
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Quando os responsáveis por uma das piores crises humanitárias já vividas no Brasil irão pagar?

 

No último domingo (29), o Fantástico, da Rede Globo, levou ao ar uma reportagem produzida por Sônia Bridi e Paulo Zero, a respeito da crise humanitária que os Yanomamis vêm sofrendo na região de Roraima. As imagens são estarrecedoras e, também, revoltantes. Estarrecedoras, pois só não se sensibiliza com as cenas quem desconhece o que é empatia e não se importa com a vida humana. Revoltante, pois tudo isso ocorreu com anuência e aval de um grupo político que, até pouco tempo atrás, levava seu projeto de destruição adiante no Brasil.

É importante dizer que o número de crianças da etnia Yanomami mortas por desnutrição quase quadruplicaram nos últimos quatro anos, quando comparado ao período anterior. Segundo dados do Ministério da Saúde e Agência Sumauma, foram 152 mortes contra 33, o que representa um aumento de 360%. Isso vem sendo motivado, principalmente, pelo aumento exponencial do garimpo na região, que fez elevar também outros problemas, como a malária, pneumonia e a contaminação das águas por mercúrio.

Amigas e amigos, é importante que após o período de resgate aos Yanomamis – vítimas de uma verdadeira política de extermínio por parte da ultradireita brasileira -, o enfrentamento a quem promove destruição deve ser feito com rigidez. E não deve ser um enfrentamento somente aos garimpeiros criminosos que atuam nos fundões do nosso país. Também aqueles que fazem uso da política para “passar a boiada” devem ser devidamente responsabilizados. Não se trata apenas de um fato isolado o que ocorreu com esse povo, vale dizer. Isso é um projeto que incluiu, entre outras coisas absurdas, o genocídio. E, sim, isso pode ser caracterizado como genocídio. E, sim, nós sabemos quem são os responsáveis pela inércia e inação.

 

De acordo com relatório preliminar do Ministério dos Direitos Humanos, há 22 suspeitas de omissão do governo Bolsonaro no caso dos Yanomamis. (Foto: Mateus Bonomi/Agif/Folhapress)

Conforta saber que uma parte dos nossos militares esteja, enfim, compreendendo que os únicos inimigos que existem por aqui são aqueles que matam os povos originários, e não o fantasma de um tal “comunismo” que só existe na mente conturbada de quem desconhece o que é cuidar, de fato, da saúde mental. As nossas guerras são outras. Nossas guerras não devem ser romantizadas. Nossas guerras não estão nas trincheiras. Nossas guerras não estão nas defesas antiaéreas ucranianas ou nos mísseis russos. Nossas guerras vão muito mais além daquilo que é retratado em filmes de época hollywoodianos.

Nossas guerras são as nossas guerras, e é sobre esse Exército, que age em prol do resgate humanitário, que falamos com respeito, e não aquele que se deixa levar pelo discurso fácil, porém frágil, de um tal Jair Messias Bolsonaro (PL) que, de patriota, não tem absolutamente nada.

“Nunca antes um governo dispensou tanta atenção aos indígenas”, disse o ex-presidente em seu Twitter, recentemente. De fato, Bolsonaro, você dispensou toda a atenção. Toda a atenção que os Yanomamis necessitavam, você dispensou. Quando Yanomamis pediram ajuda, você os deixou de lado. Quando Yanomamis aguardavam socorro, você não quis ter qualquer obrigação para com eles. Seu governo dispensou completamente todos os alertas que lideranças ambientais faziam. Por outro lado, Bolsonaro, você deu atenção total para os seus amigos garimpeiros, e existem inúmeras provas disso. Quer uma?

Em um vídeo postado por Guilherme Boulos (PSOL) em seu Instagram, o ex-presidente aparece ao lado de um homem ainda não identificado, ambos defendendo o garimpo e o agronegócio no Brasil. “Estou com um colega da terra aqui, estamos acertando uma ida ao Pará. Vamos bater um papo aí, para a gente dar uma injeção de ânimo e acreditar no Brasil, tá ok? Essas ‘historinhas’ aí que o pessoal faz muito na região, vocês sabem qual é, a gente chegando lá vai acabar com essa brincadeira toda aí, tá legal? Nós vamos fazer um Brasil para nós brasileiros”, disse Bolsonaro, em mais uma de sua demonstração chula de nacionalismo de araque e com um uso questionável da língua portuguesa.

Quase ao final do vídeo, ambos concordam sobre o “potencial industrial” que as regiões citadas no vídeo possuem. Em determinado momento, Bolsonaro afirma que “ao chegar lá” vai acabar com a “política indigenista”, com a “política ambiental” e também os Direitos Humanos. “Eu estive lá em Roraima, também um estado maravilhoso, mas está completamente engessado por política indigenista, política ambiental e direitos humanos. Não dá para continuar assim não, ok?”, diz.

 

 

Vamos além! A plataforma ‘Aos Fatos’, desde 2019, reuniu todas as declarações enganosas feitas pelo ex-presidente e chegou à conclusão de que ele se despediu do Palácio do Planalto com 6.676 falas falsas ou distorcidas, uma média de 4,58 por dia.

Imaginem só se esse mesmo Bolsonaro, que repetia exaustivamente a passagem bíblica “conhecereis a verdade e ela vos libertará”, tivesse ocupado o seu tempo em resgatar os povos originários do nosso país, e não ter mentido compulsivamente? Quantas crianças e idosos estariam vivos neste momento?

Aliás, onde estava Damares Alves (Republicanos), que à época era ministra  da “Mulher, da Família e dos Direitos Humanos”, porém achou por bem se omitir e ignorar as violências sofridas pelos Yanomamis, denunciadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos? Onde estava a ministra que viu Jesus em um pé de goiabeira, mas não quis notar crianças e idosos indígenas morrendo por desnutrição? Onde estava Damares Alves que disse que meninas deveriam vestir roupas rosas, e meninos azuis, mas foi incapaz de se solidarizar com seres humanos vestidos com o verde das nossas florestas? Damares, onde estava você enquanto garimpeiros ilegais negociavam ouro em troca de sexo com mulheres indígenas, inclusive espalhando DSTs?

Já sei. Entre outras coisas, enquanto tudo isso acontecia, Damares Alves ocupava o seu tempo em defender que uma criança de 10 anos, estuprada pelo tio, não tivesse acesso à interrupção da gravidez, no Espírito Santo. Tudo em nome da “família” e dos “bons costumes”, é claro. Vai ver que, para Damares e para as 714.562 pessoas que a elegeram como senadora pelo Distrito Federal, com um mandato de oito anos de duração, a vida de quem anda com uma bíblia embaixo do braço mas enche a boca para pregar o extermínio de indesejáveis, vale mais do que a vida de um indígena que, na cabeça destes “cidadãos de bens”, é igual ou inferior a nada.

Queridas e queridos, são tantos os culpados por esse genocídio. São tantas as provas contundentes. São tantos os indícios de crime de extermínio. São tantos os que comemoram o avanço do garimpo ilegal e do desmatamento. São tantos os que fazem política com o caos. São tantos os que desprezam a vida humana.

Cabe, então, e novamente, a mesma pergunta de sempre: quando, enfim, a justiça será feita nesse país? Quando?

A ver.

 

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