Amigas e amigos, a prisão de militares envolvidos em uma suposta trama para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, acenderam um alerta perigoso e sombrio. E sim, mais uma vez. De tão absurdo, este caso levanta dúvidas sobre o projeto de anistia em discussão no Congresso Nacional, que propõe perdoar atos cometidos durante ataques contra as instituições democráticas, como os de 8 de janeiro de 2023.
Além disso, é fato que o cerco se fecha cada vez mais para Jair Bolsonaro, já tão atolado por uma série de acusações relacionadas a atos antidemocráticos. A prisão dos militares também se conecta a um episódio recente: o ataque terrorista ocorrido na semana passada, que, embora diferente em sua execução, carrega o mesmo espírito de desestabilização que ameaça os pilares democráticos do país.
O projeto de anistia, defendido por setores à direita mais extremistas como um passo necessário para pacificar o país, agora enfrenta um obstáculo ainda maior. Vejam só, como justificar o perdão a atos antidemocráticos quando figuras de alto escalão militar estão sendo acusadas de tramar o assassinato daqueles que eles consideram seus opositores, em nome de um “bem maior”? Como justificar a suposta participação de Braga Netto, então candidato à vice-presidente de Bolsonaro, em toda essa história criminosa?
A proposta, que já gerava críticas por sinalizar uma possível impunidade, agora tem todos os ingredientes necessários para perder ainda mais apoio no Congresso. A tentativa de perdoar atos golpistas em um contexto em que novas conspirações emergem precisa ser considerada como inaceitável, caso contrário vamos passar um recibo para todos aqueles grupos organizados, ou lobo solitários, que queiram investir contra a democracia.
“O perigo de qualquer seita é substituir a verdade pela fidelidade cega ao grupo”, friedrich nietzsche.
Paralelamente, o envolvimento de militares em uma trama tão extrema coloca Jair Bolsonaro em uma posição cada vez mais desfavorável. É aquela coisa: “quando a maré está contra você, até remar fica mais difícil”. Mesmo estando de jet-ski. O ex-presidente já enfrenta acusações relacionadas aos ataques de 8 de janeiro e a outras ações que desafiaram a ordem democrática, mas a prisão de aliados de alto escalão no meio militar pode ampliar as investigações sobre suas conexões com esses movimentos.
Bolsonaro, que sempre manteve uma relação próxima com as Forças Armadas e adotou uma retórica que alimentava a instabilidade institucional, agora está ainda mais cercado por evidências de que essas ações não foram isoladas. Notícias já dão conta que documentos golpistas foram impressos no Palácio do Planalto durante o governo de Bolsonaro. Aliás, já tem até ‘cagueta’ dando com a língua nos dentes, como o general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretária-geral da Presidência de Bolsonaro. Segundo ele, o ex-presidente teria dito que “qualquer ação” poderia ocorrer até 31 de dezembro de 2022, indicando medidas extremas nesse período.
Se as investigações confirmarem algum nível de participação ou conhecimento por parte do ex-presidente, isso pode acelerar os processos judiciais que já tramitam contra ele e aumentar as chances de que ele seja responsabilizado.
Outro ponto importante. A relação entre essa trama e o ataque terrorista ocorrido na semana passada não pode ser ignorada. Ambos os episódios revelam a persistência de grupos e indivíduos dispostos a recorrer à violência para desestabilizar o governo e desafiar as instituições democráticas. Quase como uma ‘seita’ mesmo.
Enquanto o ataque da semana passada representou uma ação direta e visível, a conspiração para assassinatos políticos expõe outra coisa: um planejamento mais profundo e organizado que vai para além do ato de insurgência. Esses eventos refletem a continuidade de uma atmosfera de tensão que foi alimentada por anos de discursos inflamados e ataques à legitimidade das instituições.
A prisão dos militares e os desdobramentos políticos que se seguirão têm o potencial de redefinir o futuro imediato do Brasil. A discussão sobre o projeto de anistia pode ser diretamente impactada, com uma provável intensificação das divisões no Congresso e na sociedade. Jair Bolsonaro, por sua vez, enfrenta um cenário cada vez mais desafiador, em que as conexões entre seus aliados e atos golpistas são expostas de forma crescente. “A casa caiu”, diriam imediatamente alguns. Eu prefiro: “o bunker implodiu”. Sim, o bunker: o dos ratos golpistas, sempre escondidos na ignorância, mesquinharia e na truculência.
Este é um momento crítico, sinuoso, em que a justiça e o fortalecimento das nossas instituições são essenciais para garantir que o Brasil supere essas ameaças e reafirme seu compromisso com o Estado de Direito. Caso contrário, não há muitas saídas, somente novos encontros desagradáveis com quem em tudo se beneficia do caos, e em nada faz o nosso país mirar para um amanhã de ordem e progresso, de fato.
O que o amanhã nos reserva?