Nova temporada de Black Mirror tem episódio denso e fiel à série; leia a análise sem spoiler

 Nova temporada de Black Mirror tem episódio denso e fiel à série; leia a análise sem spoiler

Foto: Divulgação/Netflix

 

‘Black Mirror’, a aclamada série de ficção científica da Netflix, chegou a sua sexta temporada e podemos dizer que o terceiro episódio é um verdadeiro banquete para os fãs. Ainda que ótimas histórias também tenham tido seu merecido destaque, como “Joan is Awful”, é “Beyond the Sea” que rouba a cena e entrega uma experiência Black Mirror de verdade.

A história central, que se passa nos anos 1960, acontece em dois ambientes: no espaço e em nosso planeta. Acompanhamos a história da dupla de astronautas, David (Josh Hartnett) e Cliff (vivido por Aaron Paul, o eterno Jesse Pinkman de outra obra primorosa, ‘Breaking Bad’). Ambos estão à bordo de uma nave espacial, para uma missão de seis anos. No entanto, suas cópias continuam na Terra, por meio de réplicas mecânicas perfeitas que recebem a personalidade e a consciência dos astronautas através de uma transmissão à distância.

Só isso já faz questionarmos muitas coisas, em especial a possibilidade de transferirmos nossas consciências para algo além do nosso corpo físico. Algo similar já havia sido contado, também em Black Mirror, com ‘San Junipero’, quarto episódio da terceira temporada da série. Aliás, San Junipero é outro deleite, tamanha sensibilidade e perfeição narrativa. Se não assistiram ainda, assistam!

Mas, voltando a ‘Beyond the Sea’. A virada na história se dá quando a casa de David é invadida, na Califórnia, e um ponto de virada acontece. Tal fato muda completamente os rumos da trama, com Cliff se sentindo empático pela dor de seu parceiro e tentando amenizar isso emprestando o seu avatar para que David consiga encontrar, novamente, sentido na vida.

 

Foto: Divulgação/Netflix

Ainda que a entrega de Josh Hartnett seja imensa, é Aaron Paul que mostra a que veio. Seu personagem é o complexo e completo oposto ao de Josh. Cliff é um homem sério, rústico, tradicional, mas também pode ser alguém empático. David é extrovertido, passional, descontraído, mas também pode ser um poço sem fim, capaz de cavar ainda mais quando se vê acuado e perdido. Os extremos nas personalidades de ambos se tornam algo mais incerto do que a própria viagem espacial em que se encontram, sem pouso definido.

Se tudo isso gera algum tipo de colisão? É isso que quer saber? Bom, assistam o episódio e confiram! Está tudo lá!

Fato é que a entrega dos atores em seus papeis, assim como a originalidade do episódio, faz com que tudo se encaixe perfeitamente bem e tenha sentido, ainda que se trate de algo muito tecnológico e distante do nosso plano real de acontecimentos. Tudo ali, naquela história, não gira ao redor de ficção tão somente; é sobre relações e sentimentos humanos, e é isso que torna algo crível, palpável e muito próximo a nós mesmos.

A excelente trilha sonora, no caso ‘Quand on n’a que l’amour’, de Jacques Brel, serve de caldeirão bem moldado capaz de reunir todos os ingredientes de sutilezas contidos no episódio, criando uma alquimia perfeita e igualmente sensível.

O episódio contém lições de vida, assim como levanta questionamentos necessários e importantes. Até onde pode levar a nossa empatia? Até quando pessoas usam as outras como pontes para a saciedade de suas próprias fantasias? Nosso (in)consciente prega peças e monta armadilhas contra nós mesmos? Até que ponto os avanços tecnológicos podem beneficiar ou prejudicar ainda mais nossas inconstâncias enquanto seres humanos? Tudo isso e muito mais está em ‘Beyond the Sea’, em camadas tão bem trabalhadas ao longo de uma hora e 20 minutos que passam num piscar de olhos.

É Black Mirror em sua essência.

 

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