Alta cúpula do PT erra ao desconsiderar presença e ideias de Eduardo Suplicy

 Alta cúpula do PT erra ao desconsiderar presença e ideias de Eduardo Suplicy

Imagem: Divulgação

 

Se existe uma pessoa que une diferentes opiniões em uma zona neutra, essa pessoa é Eduardo Suplicy (PT). A figura emblemática de Suplicy é uma espécie de oásis no campo político. Quando o assunto é o vereador paulistano, poucos são os argumentos usados para realizar alguma crítica mais contundente a seu respeito. Sobram, no entanto, os elogios pelo seu espírito jovem e combativo. O Partido dos Trabalhadores (PT) errou, e muito, em desconsiderar a presença e as ideias do petista no lançamento do programa de governo da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última terça-feira, 21.

Falo do espírito jovem e combativo, pois as diversas faces do cidadão Eduardo Suplicy, e não somente do político, transitam em diferentes cenários que possamos observar. As faces de Suplicy estão presentes desde aquele cidadão comum que se mistura com o público em um show do grupo de rap Racionais MC’s, até aquele manifestante que é conduzido à força e estampa as manchetes de diversos jornais, em protesto contra reintegração de posse.

Vai daquele que se coloca à frente de uma professora na Câmara de Vereadores de São Paulo a fim de protegê-la, até aquele que resolve comemorar o seu aniversário no meio de uma praça, com a presença de representantes de diversos setores da sociedade, como Guardas Civis Metropolitanos, até pessoas em situação de vulnerabilidade social.

É constrangedor observar o vídeo que circulou nas redes em que Suplicy interrompe o evento do partido – ao qual ajudou a construir a história -, para confessar que não havia sido convidado para tal, além de afirmar que estava ali para reclamar que sua proposta, a Renda Básica de Cidadania, ficou de fora do programa de governo de um eventual mandato de Lula.

“A proposta não foi considerada, infelizmente, entreguei por e-mail há dez dias e não foi considerada ainda, aprovada por todos os partidos e sancionada pelo presidente Lula. Está no programa do PT há anos. Ele [Mercadante] tem alguma coisa comigo, não me convidou para a reunião! Mas hoje estou aqui”, afirmou o vereador.

A fala de Suplicy deveria, no mínimo, soar como um soco no estômago e nas ideias da alta cúpula de um PT que aparentemente passa por reformulação e/ou uma crise de identidade. Um PT que prefere transmitir suas pautas ao vivo para a internet, trancafiado em um hotel de São Paulo, do que acatar as sugestões das ruas de um país já muito abalado por sucessivas crises.

Essa honestidade pode ser comparável àquela de Mano Brown, que fez uso da palavra em um comício pró-Haddad, durante as eleições de 2018. Em meio a um clima festivo, o cantor fez uso da palavra e foi duro ao criticar a comunicação da campanha: “Se não conseguir falar a língua do povo, vai perder mesmo. Falar bem do PT, para a torcida do PT, é fácil. Tem uma multidão que precisa ser conquistada ou vamos cair no precipício”. Logo em seguida, Brown foi vaiado por parte do público presente.

Quando muitos falam que o PT perdeu a capacidade de conversar com as bases, é também com o desprezo à Eduardo Suplicy que isso fica em evidência. Suplicy é uma espécie de ponte entre o mundo real e a política de terno e gravata feita a portas fechadas. Participar ativamente dos desdobramentos sociais deu a ele essa qualidade ímpar, distinta entre grande parte dos políticos no Brasil.

Ao ignorar a eterna alma jovem de Suplicy e seu espírito combativo dentro do campo das ideias, apesar de um corpo que sente os reflexos da ação do tempo, é cravar que o PT parece não ter compreendido muito daquilo que enfrentou em um passado não muito distante.

Suplicy, apesar de tudo isso, continua gigante. É a tal “alta cúpula” que faz o PT descer mais alguns degraus da humildade – ou subir mais alguns em seu ego -, com uma cena digna de vergonha alheia protagonizada por ela mesma.

* As opiniões aqui emitidas não necessariamente representam o Voz Diária.

 

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