O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta segunda-feira (10) que seu plano para a reconstrução da Faixa de Gaza não prevê o retorno dos palestinos que deixarem o território, devastado pela guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. A proposta, que tem sido alvo de críticas e protestos, reacendeu temores de uma possível limpeza étnica na região, comparada por alguns à histórica Nakba de 1948.
Em entrevista à Fox News, Trump afirmou que os palestinos não retornariam a Gaza, mas seriam reassentados em “habitações muito melhores” em locais permanentes. “Eu estou falando em construir um lugar permanente para eles porque, se tiverem de retornar [a suas casas] agora, serão anos até que possam fazê-lo. Não é habitável”, disse o presidente, referindo-se ao estado de destruição em que Gaza se encontra após os bombardeios israelenses.
A ONU aponta que 92% dos edifícios em Gaza foram atingidos durante o conflito; destes, muitos foram completamente destruídos. Trump sugeriu que os palestinos poderiam ser reassentados em comunidades seguras, longe das áreas de conflito, em um processo que poderia levar anos. “Poderiam ser cinco, seis anos. Podem ser dois. Mas nós iremos construir comunidades seguras, um pouco longe de onde eles estão agora, onde está todo o perigo”, afirmou.
Reações internacionais e temores de limpeza étnica
A proposta de Trump gerou reações imediatas, especialmente nos países árabes. Egito e Jordânia, citados como possíveis destinos para o reassentamento dos palestinos, ainda não se manifestaram oficialmente sobre o plano. No entanto, líderes palestinos e governos árabes já denunciaram a ideia como uma tentativa de promover uma segunda Nakba — termo árabe que significa “catástrofe” e é usado para descrever o deslocamento forçado de palestinos durante a criação do Estado de Israel em 1948.
Aliados e rivais de Trump temem que o plano imponha uma limpeza étnica em Gaza, alinhando-se às políticas defendidas pela ultradireita israelense, que sustenta o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O ministro da Defesa de Israel já ordenou que o Exército prepare um plano para o êxodo dos palestinos, embora tenha ressaltado que o processo seria voluntário.
Implicações para o cessar-fogo e negociações de reféns
O plano de Trump também tem implicações imediatas para o frágil cessar-fogo em vigor desde 19 de janeiro. O Hamas anunciou nesta segunda-feira que não libertará a próxima leva de reféns israelenses, prevista para sábado (15), até que Israel normalize a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Até agora, 16 dos 33 reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro foram devolvidos a Israel, em troca de centenas de prisioneiros palestinos.
As negociações em Doha, capital do Catar, ocorrem sob tensão, com o processo de libertação dos reféns sendo descrito como humilhante por parte de Israel. O contexto de atrito entre as partes foi agravado pelas declarações de Trump, que sugeriu que os EUA assumiriam o controle de Gaza ao final do processo de cessar-fogo — uma ideia que causou espanto, já que Israel não tem soberania legal sobre o território segundo o direito internacional.
A visão de Trump para o futuro de Gaza
Trump descreveu sua proposta como um “desenvolvimento imobiliário para o futuro”, sugerindo que Gaza poderia se tornar uma espécie de “Riviera do Oriente Médio”. “No meio tempo, eu seria o dono disso. Pense nisso como um desenvolvimento imobiliário para o futuro. Seria um lindo pedaço de terra, nenhum grande dinheiro gasto”, afirmou, com a franqueza que tem marcado suas declarações sobre o conflito.
No entanto, o presidente já recuou de sua ideia inicial de ocupar militarmente Gaza, diante da má repercussão entre sua base eleitoral.