quarta-feira, fevereiro 12, 2025
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Deportações em massa podem gerar déficit de mão de obra nos EUA

Por Agência Brasil

Em 2004, o filme Um Dia sem Mexicanos, do diretor mexicano Sergio Arau, imaginou um cenário absurdo: o desaparecimento súbito de todos os imigrantes latinos dos Estados Unidos. Famílias em crise, fazendas paralisadas e serviços essenciais desorganizados compunham o retrato de uma sociedade à deriva sem sua força de trabalho imigrante. Duas décadas depois, a ficção ressurge como metáfora assustadora diante das promessas do presidente Donald Trump de realizar a “maior operação doméstica de deportações da história americana”.

Dependência Econômica e a Sombra das Deportações

Com aproximadamente 11 milhões de imigrantes não autorizados vivendo nos EUA em 2022, segundo o Pew Research Center, setores inteiros da economia dependem desse contingente. A agricultura, os serviços e pequenos negócios são os mais vulneráveis. “Várias indústrias entrariam em caos, principalmente a alimentícia, que depende de mão de obra subempregada”, alerta Thaddeus Gregory, pesquisador da UFRJ.

A professora da FGV Carla Beni destaca a exploração estrutural: “Trabalhadores sem documentação recebem menos e são essenciais para setores como coleta de frutas e laticínios, onde americanos não aceitam condições precárias”. O cenário de deportações em massa elevaria custos laborais, pressionando a inflação e possivelmente os juros, como explica Roberto Moll, da UFF: “Empresas perderiam competitividade, e o Fed poderia reagir elevando taxas”.

Impactos Sociais: Famílias Dilaceradas e Tensão Identitária

Além da economia, o tecido social seria rasgado. Mais de 4,4 milhões de crianças nascidas nos EUA vivem com pais indocumentados. “A deportação separaria famílias e geraria medo em um quarto da população”, afirma Gregory. Rubens Duarte, do Labmundo, aponta a contradição histórica: “Os EUA, um melting pot construído por imigrantes, agora fecha portas e expulsa pessoas, afetando sua identidade nacional”.

A política de “tolerância zero” também alimenta a desconfiança. “Ela estimula denúncias contra vizinhos, criando pânico”, diz Beni. Para os que permanecessem, a precarização poderia piorar: “Trabalhadores aceitariam condições ainda piores para evitar deportação”, completa Duarte.

Trump Entre a Retórica e a Realidade

Apesar das promessas, especialistas questionam a viabilidade da operação. “Tudo depende de como a retórica se traduz em ação”, pondera Gregory. Moll sugere que pressões empresariais poderiam suavizar medidas caso a economia sofra. Por outro lado, o endurecimento pode alimentar setores de segurança e reforçar narrativas xenófobas entre a base trumpista.

Enquanto isso, imagens como a de deportados recebendo ajuda no aeroporto de Manaus (foto acima) ilustram o drama humano. O filme de Arau, hoje, parece menos uma sátira e mais um alerta: em um país onde 98% da população descende de imigrantes, apagar essa força é apagar parte de sua própria história.

Com colaboração de pesquisas do Pew Research Center e dados do Censo dos EUA.

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