quarta-feira, fevereiro 12, 2025
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Fim da hegemonia dos EUA? DeepSeek revoluciona a inteligência artificial e abala o mercado global

A inteligência artificial (IA) não é apenas uma revolução tecnológica; é, também, uma ferramenta geopolítica que está redefinindo o equilíbrio de poder global. Quer uma prova do que eu estou falando? Na segunda-feira, 27, o mundo — ou melhor, o mercado financeiro –, foi atingido em cheio por um abalo sísmico de proporções inéditas com o anúncio da startup DeepSeek, uma IA chinesa de baixo custo.

Para o desenvolvimento dessa IA, a DeepSeek investiu cerca de US$ 6 milhões em poder computacional para treinar o modelo DeepSeek-V3. Achou muito? Eu também achei. Para nós, meros mortais, é um valor altíssimo, é claro. Acontece que empresas como a Meta e a OpenAI investem cerca de US$ 100 milhões, ou mais. Então, é como se os US$ 6 milhões fossem ‘troco de bala’ para o mercado.

A proeza da DeepSeek foi possível porque a startup conseguiu contornar sanções dos EUA que restringem a exportação de chips avançados para a China. Utilizando tecnologia inferior, a empresa treinou seu modelo com apenas 2 mil chips, em comparação com as dezenas de milhares usados pela OpenAI. A mensagem da DeepSeek é clara: adversidades podem ser transformadas em oportunidades. E isso deu muito certo.

Para se ter uma ideia, de acordo com a agência Bloomberg, empresas de tecnologia dos Estados Unidos e da Europa perderam cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado após o lançamento do assistente de IA da DeepSeek, que superou o ChatGPT, da OpenAI, em downloads e avaliações na App Store da Apple nos EUA.

A maior perdedora do dia foi a Nvidia, fabricante de chips essenciais para o treinamento de IA. Suas ações caíram 17,8%, resultando na maior perda diária de sua história, com mais de US$ 600 bilhões eliminados de sua capitalização de mercado. Antes disso, o maior prejuízo registrado pela Nvidia havia sido em setembro de 2024, com uma queda de US$ 279 bilhões.

Elon Musk perde US$ 5,3 bilhões após impacto da DeepSeek no mercado global. (Foto: One Person Business)

Poderosos da tecnologia sentiram os efeitos destes tremores, com suas fortunas despencando em bilhões de dólares. Larry Ellison (Oracle) perdeu US$ 27,6 bilhões; Jansen Huang (Nvidia), US$ 20,8 bilhões; Michael Dell (Dell), US$ 12,5 bilhões; Larry Page (Alphabet), US$ 6,4 bilhões; Sergey Brin (Alphabet), US$ 6 bilhões; e Elon Musk (Tesla e xAI), US$ 5,3 bilhões.

Acontece que, até então, tinha-se a percepção de que os EUA eram o ‘país mais avançado em tecnologias de inteligência artificial no mundo’. Tanto pelo desenvolvimento de modelos como o ChatGPT, da OpenAI, quanto o Gemini, do Google. Isso sem falar no domínio sobre a distribuição de chips extremamente avançados, como os da companhia norte-americana Nvidia. Agora, isso mudou de perspectiva. O que a DeepSeek fez foi colocar tudo isso em xeque, impondo menos tempo, menos recursos e menor poder tecnológico.

Donald Trump, em declaração na segunda-feira, 27, destacou a necessidade de ação: “O lançamento do DeepSeek deve ser um alerta para nossas indústrias: precisamos competir para vencer”. Já Sam Altman, CEO da OpenAI, reconheceu o feito chinês. “É um modelo impressionante, especialmente pelo custo”, disse em sua conta no X, acrescentando: “Obviamente, entregaremos modelos melhores, mas é revigorante ter um novo concorrente”.

Trump alerta sobre DeepSeek, enquanto CEO da OpenAI reconhece avanço chinês. (Foto: Chip Somodevilla/POOL/AFP)

Eu mesmo testei a IA chinesa. Embora ainda perca em alguns aspectos, como suporte a envio de imagens e áudios – algo presente no ChatGPT –, o progresso da DeepSeek em menos de dois anos é notável. Para comparação, a OpenAI demorou três a cinco anos para alcançar resultados semelhantes.

Fato é que o setor de IA é altamente dinâmico, e a entrada de novos players, como a DeepSeek, pode trazer mudanças importantes no futuro; no entanto, seu impacto real ainda está por ser visto, analisado, sentido. O que pode ser observado, com total clareza, é uma reorganização do mundo em muitos sentidos, especialmente no que diz respeito à geopolítica e como a criatividade chinesa superou, até mesmo, a arrogância e o belicismo discursivo de algumas figuras e/ou países. Se há dúvidas que a China é a próxima grande potência mundial, as respostas estão, também, ancoradas nesses assuntos tão presentes em nossos tempos.

O que me preocupa nisso tudo é a posição do Brasil. Nosso país parece distante de sequer sonhar em ser um player competitivo nesse cenário. Isso, no entanto, fica para outra discussão.

É isto.

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