O que duas tragédias nos ensinam?

 O que duas tragédias nos ensinam?

Foto: Hellenic Coastguard/AFP e Twitter/901Lulu

 

Uma notícia trágica tomou os noticiários nesta semana. Não falo sobre os 300 refugiados paquistaneses que perderam a vida em um naufrágio no sul da Grécia. Falo do sumiço de um submersível que levava bilionários para uma expedição de oito dias rumo aos destroços do Titanic. Não que eu queira eleger a tragédia mais terrível, mas é que o dinheiro, em excesso ou em sua quase total ausência, pode promover dissabores amargos.

Vejam só. O valor do ‘ingresso’ para entrar à bordo de uma ‘lata de sardinha’ da OceanGate era de aproximadamente R$ 1,2 milhão. Por outro lado, não sei ao certo quanto as 750 pessoas amontoadas rumo ao incerto, pagaram, mas certamente deva ter sido algo imensamente mais barato em comparação ao ticket para o tal submarino. Talvez, arrisco dizer, o sonho da esperança valesse muito mais do que qualquer dinheiro, ali.

Suposições a seguir. No submarino, pode ser que estivessem bilionários em profundo tédio existencial, a ponto de se colocarem em risco em uma aventura, no mínimo, questionável. Vá lá que a expedição pudesse injetar adrenalina, emoção… Mas a que custo?

Do outro lado, seres humanos desesperados por uma vida melhor, que buscavam em uma travessia perigosa pelo Mediterrâneo, muito mais que o dinheiro para melhorarem de vida, mas o sonho de existirem sem tantas misérias, injustiças e conflitos armados. Aliás, vale dizer, dentre os 750 migrantes, 100 eram crianças – para essas, o valor da esperança, do sonho, pudesse ser até maior.

Vamos aos fatos. Está lá, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo primeiro: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. É que para uns, na prática, isso vale mais do que para outros.

Por exemplo. A vida de mulheres vale mais do que a vida de homens? A vida de pessoas brancas vale mais do que a de pessoas não brancas? O que vale mais? A vida de bilionários aventureiros ou a vida de refugiados pobres e desesperados?

Fato mais do que comprovado, diante disso tudo, é que o mar não faz distinção e arrasta para o mais profundo abismo, pobres e ricos, mulheres e homens, crianças e adultos, e por aí vai. Arrasta para o fundo, felicidades e dissabores de todos os tipos. Arrasta para o fundo o tédio e o sonho, bem como a esperança e a aventura. O mar também serve como sarcófago para toda a fugacidade humana. Foi assim durante os séculos passados, e permanecerá sendo assim diante dos próximos.

Jorge Luis Borges ajuda a dar um encerramento para tudo isso, tanto para o texto, quanto para os fatos: “Quem é o mar? Quem é aquele ser violento e antigo que atormenta os pilares da terra e é um e muitos mares e abismos, esplendor, chance e vento? […] Quem é o mar? Quem sou eu? Vou saber no dia seguinte à agonia.

É isto.

 

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