O que sobrou da ditadura, reivindica o que já não existe mais; vence a Democracia uma nova vez

 O que sobrou da ditadura, reivindica o que já não existe mais; vence a Democracia uma nova vez

Foto: Matheus Alves/Getty Images

 

Foi com muita tristeza que acompanhei as notícias do último domingo (8). E quanto mais observava com atenção tudo aquilo por meio de imagens televisivas, mais eu não queria acreditar que, de fato, estava ocorrendo naquele momento um verdadeiro assalto à nossa Democracia perpetrado por terroristas. E não há quem me convença que tais terroristas não podem ser assim chamados. São, sim, terroristas; ou mais além disso, são a sobra do que restou da ditadura. Vocês não venceram, vocês jamais vencerão.

Digo que esses terroristas representam o que sobrou da ditadura, justamente por que reúnem em si a pequenez daquele momento obscuro de nosso país. Não à toa, quando não desfilam ignorância pela internet, vivem reclusos em acampamentos pequenos, fomentando entre si delírios dos mais absurdos possíveis; quando adoecida a capacidade de observação lúcida da realidade, é a chaga, o veneno da mentira, que se apossa dessas pessoas e, assim, elas se atrevem através da loucura e da irrisão.

Quando, da loucura e da irrisão, essas pessoas irrompem suas inconsistências, todas enfurecidas, as cenas que a sociedade acompanha a partir daí, são as cenas de destruição, de caos e de delinquência abissal que vão muito além de prédios invadidos, vidros quebrados, móveis revirados, obras de arte profanadas, ainda que esses tenham sua simbólica importância. A representação disso tudo, lamentavelmente, é a capacidade de tais pessoas de estarem dispostas a se desconectarem consigo mesmas, para satisfazerem um saudosismo abjeto de algo que não existe mais. E por mais que se troque uma moldura por outra, o quadro é o mesmo. As roupas velhas e desgastadas do autoritarismo já não nos servem mais. Esqueceram de avisar os golpistas?

Nossa Democracia atravessou novamente um duro desafio, atravessou uma dura doença, mas manteve-se firme e atenta, ainda que os remédios tenham sido administrados em doses lentas. É imprescindível, sobretudo, que se identifique e se puna aqueles que fomentam o avanço da doença e/ou que investem para que uma nova se aposse da nossa República. E olha que são muitos esses que apostam na destruição, sejam eles ilustres desconhecidos ou muito conhecidos de todos, a começar pelo desastroso e incompetente ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) que não fez outra coisa, a não ser subverter a ordem social em todo o seu (des)governo. Quando perdeu a eleição, rapidamente fugiu para os Estados Unidos, deixando para trás sua horda de antidemocráticos e de vândalos.

 

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

E pensar que tudo isso só piorou depois que esse mesmo Bolsonaro, então deputado, atreveu-se a elogiar, descaradamente, um coronel que tinha como método de tortura inserir ratos na vagina de presas políticas. Ali, ele não foi punido. Agora, no entanto, ele deve ser. Não por seu elogio ao coronel – ainda que caísse bem -, mas sim por todos os seus desmandos e retrocessos durante todos os anos em que esteve à frente da presidência.

Não somente Bolsonaro deve responder por seus crimes. Todos os políticos golpistas, os agitadores, os empresários financiadores da desordem, os youtubers e “jornalistas” de extrema-direita, os “comunicadores” da desinformação, os agentes de segurança pública que agem como se fossem camisas pardas tropicais… Todos esses também devem ser responsabilizados por suas ações criminosas durante os fatídicos episódios recentes.

Como eu disse em outro artigo de opinião, permite-se muito na Democracia, mas não tudo. E nesse ponto, a Justiça do nosso país pode chegar facilmente aos responsáveis caso queira, bastando seguir os rastros do dinheiro. “Follow the money”, como diria o bordão inglês, popularizado pelo docudrama “All the President’s Men”. E, pasmem… Essa gente não vive sem isso, não age sem ver a cor de uma notinha nas mãos. A ganância é irmã do esperto.

“Mas eram infiltrados petistas que causaram a bagunça toda”, ainda tive que ler isso em diversos comentários nas redes sociais. Ora, esse argumento só faz reforçar o que dizem por aí, de que bolsonarista ou é um mau-caráter, ou um hipócrita, ou um mentiroso costumaz, ou um covarde, ou um ignorante. Há casos graves, cabe dizer, em que um único sujeito reúne tudo isso em si. Livrai-me de todos estes, Pai.

Aos poucos vamos notando a ignorância retornar ao bueiro da insensatez, mas não sem antes observarmos a radicalização de terroristas — sempre o suspiro final dos autoritários, o ato mesquinho dos delirantes. O que sobrou da ditadura, quer destruir tudo que é atual para recomeçar no passado. Os que subiram a rampa, em 1º de janeiro, desejam reconstruir o que fora atacado até então, para avançar novamente rumo ao futuro. E entre o passado e o futuro, opto sempre pela jovialidade de tudo o que é novo e pra frente, ainda que meu corpo não esteja imune à dança dos dias.

Em suma, a República e a Democracia venceram uma nova vez.

E é isto.

Essa não representa, necessariamente, a opinião do portal Voz Diária.

 

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