Em tempos de muita confusão, documentário sobre os Racionais MC’s é injeção de realidade

 Em tempos de muita confusão, documentário sobre os Racionais MC’s é injeção de realidade

Imagem: Divulgação

 

Quando o documentário ‘Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo’, produzido pela Netflix, chega ao fim, a impressão que se tem é que Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock, enfim, sobreviveram ao inferno. Para quem acompanha ou não a trajetória dos caras, que já dura mais de 30 anos, a respiração ao término é de alívio, mas também pode ser entendida como uma injeção de realidade em meio a tempos tão confusos.

A história do grupo é um tratado em busca da paz. São vozes que atravessaram a violência, as injustiças, as feridas sociais expostas nas periferias de São Paulo. É a representação de uma consciência que andou pelo vale da sombra e da morte e não temeu mal algum. Essa história pode ser lida como um registro histórico tanto quanto pode ser compreendida, também, como uma reafirmação da luta da população preta, especialmente nas periferias do Brasil.

Não à toa resistência, resiliência e coragem são palavras que compõe naturalmente a essência dos Racionais MC’s, do Holocausto Urbano (1990) ao Cores & Valores (2014), de ‘Pânico na Zona Sul’ a ‘O Mau e o Bem’. São três palavras que representam, acima de tudo, três traços de personalidade do próprio Brown, KL, Edi Rock e Blue, acrescidos às batidas que, mesmo com o passar do tempo, servem de referência a quem está chegando na música e ainda tocam por aí.

 

Cena do documentário ‘Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo’, produzido pela Netflix. Imagem: Divulgação

Em tempos tão confusos, em que muitos preferem trancar rodovias por conta de inimigos invisíveis, ‘Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo’ traduz outro sentimento, que é o de expor a realidade que muitos não enxergam ou não querem enxergar.

Fala sobre o visível, sobre o cotidiano da periferia. É sobre a miséria, sobre o sangue preto que escorre pelas ruas e vielas, sobre a marginalização histórica de um povo, assim como também é sobre o grito, o protesto, a reivindicação, a sobrevivência, a reafirmação da existência dos pobres e pretos em um Brasil que ainda, lamentavelmente, discute sobre o racismo latente – consciente ou não, escancarado ou escondido para debaixo do tapete.

A obra do grupo é o remédio para quem sofre, ou catarse para aquele que só quer ser feliz e dançar. É para quem luta ativamente, é para quem quer curtir um bom som. É material de estudo em universidade, é assunto nas rodas de conversa país afora. Racionais é atemporal, assim como todas as demais vozes dentro do rap que ousaram romper o silêncio, a loucura, a insensatez, para denunciar as mazelas e injustiças diárias.

“Você já é sobrevivente de um massacre, de um genocídio. Naturalmente o mais forte sobrevivente de um genocídio, de um transplante transatlântico malsucedido, que não virou comida de tubarão. O seu ancestral foi forte pra caralho, mas isso não é vendido. Sozinhos, nós somos fracos. Unidos, somos fodas”, comenta Brown. E é sobre isso.

Confira o trailer do documentário ‘Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo’:

 

 

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