Opinião: Rei morto, rei posto? Após Bolsonaro, quem será o próximo líder dos golpistas?

 Opinião: Rei morto, rei posto? Após Bolsonaro, quem será o próximo líder dos golpistas?

Imagem: Reprodução

 

Desde domingo, 30, o Brasil assiste cenas absurdas, de caráter antidemocrático e golpista, pelas estradas do país. Perdoe-me aquele que acredita que esses são atos pacíficos, pois não são. Não há justificativa plausível, aceitável, para acreditar em tamanha insensatez e/ou covardia argumentativa. Porém, novamente, o sinal vermelho acendeu para algo ainda mais preocupante: quando Bolsonaro já não servir ao fanatismo, o fanatismo por si só irá procurar outro mais fanático que seu antecessor, como em uma metamorfose errática.

Já considero que o Brasil se encontra em um período pós-Bolsonaro, mesmo que ainda esteja em um momento de transição de um governo para o outro, com Alckmin muito bem colocado à frente dessa discussão. Mas não pensemos que o clima pacífico irá durar muito tempo. Lula e sua frente ampla encontrarão, pelos próximos anos, uma articulada e resistente extrema-direita que não é maioria, mas faz muito barulho e sabe convencer pelo medo. O que nos resta saber é se os extremistas manterão o apoio a Bolsonaro, ou se pularão do barco em busca de um novo.

Tais movimentos de oposição à Bolsonaro como representante desse fanatismo, de caráter essencialmente fascista, já começa a despontar no horizonte dos eventos. Em vídeo gravado por manifestantes que ocupavam uma rodovia em Rio do Sul, em Santa Catarina, um homem pediu que o Exército entrasse em ação para, segundo ele, “botar ordem no país”. E vai além no pedido. “Temos que ter noção de uma coisa: nós não temos mais presidente. Não queremos mais o Jair Messias Bolsonaro como presidente. Queremos, sim, uma intervenção militar. Queremos o Exército para vir botar (sic) a ordem em nosso país”, completa.

 

“Nós queremos o Exército, não queremos mais o Bolsonaro. Nós queremos o Exército brasileiro nas ruas”, afirma homem apontado como líder do movimento golpista em Rio do Sul, em Santa Catarina.

 

Bolsonaro insiste em seu argumento sobre as “quatro linhas da Constituição”, mesmo que isso seja pura balela. Quem está fora dos grupos de fake news e delírios diversos de WhatsApp e Telegram, de apoiadores do presidente, possui plena consciência dos atentados em série que o clã bolsonarista cometeu ao longo dos anos contra o Estado Democrático de Direito. Esse tom “paz e amor”, que Bolsonaro vem adotando em seus discursos após a derrota nas urnas para Lula, em nada contribui para aqueles que não querem mais jogar nas quatro linhas da Constituição. Então, temos duas hipóteses: ou Bolsonaro precisará remodelar o seu discurso e passar a ser ainda mais agressivo e insano – e sim, isso é possível -, ou outro rei será posto para comandar essa massa fanatizada que aprendeu a se organizar ao redor da violência, sendo essa a sua principal ferramenta de ação.

Mais do que isso: os fanáticos ainda contam com o apoio e anuência de agentes de órgãos importantes da sociedade, como a Polícia Militar (PM), Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre outros, o que torna a situação uma espécie de vulcão que, antes da erupção, vai causando tremores de terra constantes e potencialmente destruidores. Tudo isso cria uma falsa sensação, na cabeça destes, que eles estão “do lado certo”, portanto, devem continuar com a baderna. Está aí a Sturmabteilung, ou os “camisas-pardas” do regime nazista, para revelar a capacidade do ser humano para o pior.

Fato é que os golpistas, com Bolsonaro, chegaram muito perto de conquistarem o que queriam. Roberto Jefferson (PTB) que o diga, disparando mais de 50 tiros e granadas contra agentes da Polícia Federal (PF), em seu atentado terrorista frustrado. Se isto pode ser considerado o extremo que um ser humano fanatizado pode chegar, calma… Jim Jones está aí para provar que o fundo do poço pode ser ainda mais profundo do que o que se pensa.

Ademais, passado o clima de alegria e esperança, vem o peso da realidade, e a realidade pode ter um gosto amargo: a vitória de Lula não colocou fim ao terrorismo armado e truculento, ainda que tenha freado o seu avanço. Isso continuará, infelizmente. Não sabemos até quando, mas continuará.

 

Golpistas fazem alusão à saudação nazista em São miguel do Oeste, em Santa Catarina. Imagem: Reprodução

Vale ressaltar um fato alarmante. De acordo com uma matéria veiculada pela UOL, estudantes de diversos colégios de elite vêm se organizando ao redor do ódio, e formando grupos de WhatsApp de caráter fascistas, neonazistas e de extrema-direita, ao melhor estilo “A Onda”, filme de 2008; quem não assistiu, que assista e compreenda o perigo disso. Não são inocentes, cabe dizer. São jovens muito possivelmente estimulados dentro de casa por seus pais, ou por parentes, para agirem de forma homofóbica, racista, sexista, covarde etc. Aliás, até incentivando os mesmos a se manifestarem politicamente, como se pregar o ódio fosse algo completamente normal.

No Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos, estudantes criaram um grupo chamado “Fundação Antipetista” e, entre outras coisas repugnantes, usavam o espaço para proferir frases gordofóbicas, machistas e xenofóbicas, além de fazerem referência a ditadores como o nazista Adolf Hitler e o fascista italiano Mussolini. Não satisfeitos, ainda adicionaram um adolescente negro e iniciaram uma série de ataques racistas. O caso repercutiu na imprensa, e até mesmo a Federação Israelita manifestou repúdio à ação dos alunos. Em nota, o Porto Seguro afirmou que repudia qualquer ação e/ou comentários racistas, afirmando que realiza palestras, orientações e projetos sobre diversidade. Resta uma pergunta crucial ao Porto Seguro: será que somente isso basta?

Gostaria de dizer a vocês que o futuro do país é promissor, mas não o posso; é um vício de todo pessimista, o de olhar também para o lado real dos fatos sem tanta catarse e sem muito engano. A sociedade que repudia energicamente o avanço da violência e do ódio precisa agir para que o fanatismo de Bolsonaro, como visto até aqui, não evolua para algo ainda mais agressivo, perverso e retrógrado.

A indecência criminosa do fascismo precisa retornar ao seu esgoto antes que tome proporções maiores – porém não inéditas na história do Brasil -, para fazer prevalecer a paz e a ordem social. O Brasil não é dessas pessoas criminosas e arruaceiras. O Brasil deve estar acima de monstruosidades iguais ou piores a Bolsonaro. Estejamos sempre atentos.

 

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