Deveríamos estar, no mínimo, preocupados com os caminhos sinuosos em que a democracia em nosso país se encontra. As cenas de violência promovidas pelo crime cometido em Foz do Iguaçu (PR), que resultaram na morte do tesoureiro do PT, cruzaram qualquer limite do racional. Devemos questionar até que ponto as instituições democráticas e a sociedade em geral devem agir para que casos como esse não se repitam até as eleições de outubro, assim como para as próximas.
O estímulo à violência no campo político não é novidade. Desde 2018 ela vem sendo alimentada em doses cavalares. Durante a campanha em 2018, o presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), sinalizava que sua vitória representaria “uma limpeza nunca vista na história do Brasil”, se referindo ao campo político oposto ao seu. “A faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser que ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão pra cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”, afirmou também o presidente.
Ora, o que Bolsonaro e seus aliados fomentaram, após tantos discursos violentos, não teria sido a construção de todo um inconsciente coletivo voltado para a violência? Não seria uma estratégia política arquitetada em cima de valores favoráveis à violência? Aquele que não atentou-se a isso, é provável que tenha se permitido em ser parte desse inconsciente construído em cima da normalização da barbárie.
Por outro lado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao subir ao palanque de um evento em Diadema, chamado “Em Defesa da Democracia”, para agradecer um ex-vereador acusado de homicídio é, no mínimo, um deslumbre do ex-presidente também ao inaceitável. Lula, com isso, estimula que o crime seja recompensado com elogios públicos ao criminoso, tenha ele consciência ou não. Isso também contribui para que cenas lamentáveis se repitam país afora.
Talvez tenha passado da hora das nossas instituições agirem firmemente para a erradicação desse discurso violento em nossa sociedade. A democracia pede paz, mas sozinha é só uma voz dissonante em meio a tantas outras, falando sempre em nome de si próprias. Para que esse sistema aconteça, é necessário que exista o debate entre diferentes pontos de vista, mas nunca a banalização do discurso de erradicação de um inimigo. Na política, adversários são permitidos; inimigos, por outro lado, não. Quando cria-se um inimigo, o resultado nós vimos qual é.
Em um país estimulado a acostumar-se desde sempre com o discurso da violência, seja ela qual for, as atitudes efetivas, reais, devem caminhar num sentido muito mais amplo e prático do que parece. Hoje, somente a democracia pode ser o antídoto para quem patrocina a violência no Brasil. Para que a democracia exista, no entanto, a sociedade deve exigir que a paz, a igualdade e a justiça representem soluções concretas, e não somente mais opções entre tantos meios para obter algo, inclusive votos.
Quem está por ela, então?