O que parecia difícil, já não é mais. Nesta quinta-feira, 12, um consórcio internacional de cientistas revelou ao mundo a primeira imagem captada de um buraco negro, conhecido como Sagitário A*, localizado no centro da nossa galáxia, a Via Láctea.
A impressionante imagem do buraco negro supermassivo, que está a cerca de 26 mil anos-luz de distância da Terra, é um verdadeiro marco para a ciência. Ela só foi possível graças a uma rede que reúne 11 radiotelescópios espalhados pelo mundo, conhecido como Event Horizon Telescope (EHT), além do trabalho árduo de mais de 350 pesquisadores. A descoberta foi apresentada simultaneamente nos Estados Unidos, China, Taiwan, México, Japão, Chile e Alemanha, em parceria com o ESO (Observatório Europeu do Sul).
“Ficamos impressionados em como o tamanho do anel [do buraco negro] está de acordo com as previsões da Teoria da Relatividade Geral de Einstein“, disse Geoffrey Bower, cientista do projeto EHT, à imprensa. “Essas observações sem precedentes têm melhorado nossa compreensão sobre o que acontece no centro de nossa galáxia e oferece novos entendimentos de como estes buracos negros interagem com seus arredores“, completou.
Imagem borrada
Em um primeiro momento, principalmente para quem não acompanha astronomia de perto, a imagem borrada pode causar estranheza. Porém, isso ocorre por essa imagem ser resultado de milhares de captações realizadas. Todas contam com diferentes orientações de movimentação do buraco negro supermassivo e, também, a mudanças de pontos brilhantes.
Além disso, como buracos negros não emitem luz, torna-se um verdadeiro desafio captar uma imagem deles. Soma-se a isso as dificuldades enfrentadas por cientistas, como o fato de haver uma poeira densa e opaca no centro da nossa galáxia que impede que a radiação emitida ao redor do buraco negro chegue até os nossos telescópios.
Diante de tudo isso, o que conseguimos observar, com a ajuda de diversos observatórios do mundo, é uma captura fraca de luz que conseguiu atravessar toda a matéria que está entre a Terra e o buraco negro no centro da nossa galáxia, ou 26 mil anos-luz de distância entre os dois pontos. O resultado dessa travessia revela-se na imagem abaixo:
Nessa imagem, o que estamos observando é o gás formado ao redor do buraco negro que foi formado a partir da aproximação de matéria, girando ao seu redor em velocidade próxima à da luz. O buraco negro, propriamente, é o que podemos observar no centro do anel luminoso.
“É um pouco como tentar tirar uma fotografia nítida de um cachorro que persegue a sua causa a toda velocidade“, disse Chi-kwan Chan, cientista do EHT no Observatório Steward e no Departamento de Astronomia e Instituto de Dados Científicos da Universidade do Arizona.
Apesar da baixa resolução e do efeito “borrado” na imagem, trata-se de um feito histórico para a ciência humana que ajudará, entre outras coisas, a esclarecer como chegamos até aqui em meio à vastidão e grandeza do Universo.